Irrelevante
outubro 14, 2012 2 Comentários
Carlos olha para o teto da cela onde se encontra, desejando conseguir de algum modo fazer o tempo passar mais rápido, pois achava o tedio durante as noites na cadeia quase enlouquecedor.
– Finalmente você está no lugar que merece, monstro. – Diz um homem do lado de fora da cela, surpreendendo Carlos.
Amaldiçoando-se pela falta de atenção, Carlos se vira e vê o dono da voz, um homem na casa dos 20 e tantos anos vestindo um impecável terno escuro típico dos rapazes da Interpol, de pé próximo as grades da cela. O modo como ele o observava dava a Carlos, no entanto, a impressão de que aquela não era uma visita profissional.
– Boa noite, agente. – Fala Carlos, em um tom descontraído – Você trouxe o sanduiche que eu pedi?
– Você não está em condições de fazer piadinhas. – O agente responde secamente.
– Ai é que você se engana. Eu estou vivo e isso já é motivo o suficiente para rir. – Diz Carlos, se levantando para encarar seu interlocutor – Agora, nós dois sabemos que você não viria sozinho a essa hora da madrugada por motivos profissionais. Deve ser alguém que eu ferrei no passado. Então, o que eu te fiz?
– Você matou minha família. Assassinou meus pais como se fossem animais, depois deixou que seus capangas estuprassem minha irmã até a morte. Tudo isso enquanto eu assistia. – Fala o agente.
– Ah entendo. – Responde Carlos, com muita naturalidade – Deve ter sido quando eu era jovem e descuidado.
– O quê? Você não se lembra? – Pergunta o agente, incrédulo.
– Você esperava que eu lembrasse? – Diz Carlos – Olha, rapaz, pra isso você vai ter de ser mais especifico…
– Suas atrocidades são tantas que você nem ao menos se incomoda em registrar elas? – Pergunta o agente, ainda sem acreditar.
– É bem por ai. – Responde Carlos, casualmente – Meu segundo em comando diz que isso é muito pouco profissional da minha parte, mas, sinceramente, eu tenho coisas mais importantes com que me preocupar do que detalhes irrelevantes do meu passado…
Carlos é interrompido pelo agente sacando uma arma e apontando para sua cabeça.
– …Como por exemplo não deixar testemunhas vivas. – Continua Carlos, impassível – Maldita displicência. Suponho que isso seja o que chamam por ai de karma.
– Irrelevante? – Grita o agente – Quando eu terminar, você vai implorar por perdão para cada uma das suas vitimas…
Carlos então ouve o já conhecido silvo de balas sendo disparadas por um silenciador e vê o agente caindo no chão. Seus homens atravessam o corredor rapidamente e abrem a porta da cela.
– Desculpe a demora, chefe. – Diz um deles – Quem era o sujeito?
– Ninguém importante. – Responde Carlos.