Retorno
maio 30, 2010 3 Comentários
Ele revisa sua obra, cuidadosamente atento a cada mínimo detalhe. Sua expressão demonstrava seu cansaço, mas também um imenso alivio.
– Interessante. Mas o você pretende com isso, camarada? – Soa uma voz pro cima de seus ombros que lhe é familiar.
Ele não se vira para encarar o olhar curioso do outro, estando ainda muito compenetrado em sua preciosa obra para engajar-se em uma conversa de verdade.
– Um retorno. Uma volta atrás. – Ele explica – E então naquela noite de sexta-feira eu teria dito adeus para ela.
– Ora, ora, então temos aqui um efeito borboleta particular. – O outro comenta – Mas você deveria tomar cuidado, camarada. Nunca se sabe o que pode acontecer quando se interfere com o fluxo das cadeias do caos.
– Vou arriscar. – Responde ele – Prefiro essa incerteza. Ela é que a constância do agora. O presente que conheço é perturbador. Talvez a incerteza me mostre algo mais perturbador, mas ao menos é uma esperança.
– Esqueça a esperança. – O outro retruca, com um largo e levemente perturbador sorriso – Ela é uma amante muito traiçoeira, camarada.
– Que seja. Já está feito. – Afirma ele.
– Então só resta esperar o que seu novo presente bata a sua porta. – Diz o outro.
Ouvem-se batidas na porta. Ele se levanta e vai calmamente atendê-la, mas ao encostar na maçaneta para, hesitante. Ele então se afasta, respira fundo e diz:
– Entre, por favor.