Montecristo
outubro 23, 2010 2 Comentários
– A comida aqui é ótima. – Eu falo, apontando com um gesto vago – Especialmente os frios. É a especialidade daqui do Montecristo. Vou pedir uma tabua de frios e um bom vinho tinto para acompanhar, se não se importa.
– Não, não. – Ela me responde, com um misto de desinteresse e apreensão.
É claro que ela não está interessada na comida. Mesmo se eu não soubesse a razão, isso estaria evidente na sua postura tensa e gestos ansiosos. Eu tenho que me esforçar monumentalmente para segurar o riso. Ainda não e a hora.
– Eu sei que é difícil para você fazer isso por mim, – Ela fala, se esforçando para engolir o orgulho – mas eu queria agradecer…
– Não. – Eu respondo.
– Eu insisto. – Ela continua – Você não tinha obrigação nenhuma comigo e…
– Você não entendeu, chuchu. – Eu a interrompo novamente, dessa vez deixando meu sorriso satisfeito se revelar lentamente – Eu disse não para o que você pediu.
– Como assim? – Ela me pergunta, incrédula – Não pode! Então por que você me convidou para vir aqui hoje?
– Posso, tanto que é exatamente o que estou fazendo. – Eu respondo, agora com um sorriso de satisfação plena atravessando meu rosto. Uma pena que o vinho ainda não chegou. Seria um acompanhamento perfeito – Quanto a sua pergunta eu tenho duas razões. A primeira foi para te dar essa falsa esperança de que a despeito de tudo eu iria te ajudar. E a segunda, e muito mais importante, foi para que eu pudesse ver essa sua expressão quando eu dissesse não.
– Não, não pode! – Ela fala quase sem conseguir articular as palavras, tomada pelo desespero – Se você não fizer isso eu vou…
– Eu sei. Lindamente. – Eu continuo, cada vez mais contente – Meus pêsames. Mas fique tranqüila que eu mandarei uma coroa de flores com um cartão bem bonito.
A expressão dela é tomada pela raiva enquanto ela se levanta para me dar um tapa. Eu seguro a mão dela com força, não forte o suficiente para machucar, só para mostrar que é inútil. Ela então se solta de mim e vai embora a beira das lagrimas, provavelmente porque não quer me dar o gostinho de ver ela chorar. Não importa.
– Aqui está seu vinho, senhor. – O garçom diz, me trazendo de volta a realidade – O senhor deseja que eu abra agora ou prefere esperar o prato?
– Agora. – Eu respondo, com a satisfação ainda impressa na minha face – Que o meu prato frio já foi servido.