Bonança
janeiro 1, 2010 1 Comentário
– Sabem, aqui me lembra a casa da vó Branca. – Falou Mauro, de repente, surpreendendo os dois que esperavam próximos ao seu leito no hospital.
Era um quarto pequeno e branco, como todos os quartos de hospital, onde a cama onde Mauro deitava ocupava a maior parte do cômodo, sendo boa parte do resto do espaço ocupado por duas desconfortáveis cadeiras plásticas onde sentavam Marco e Lucas.
– É o cheiro do desinfetante. – Comentou Marco com um meio sorriso de satisfação – Ela trabalhou nesse hospital por mais de 30 anos e ainda compra o mesmo que usam aqui.
– Eu jurava que era pelo bom tratamento. – Respondeu Mauro sorrindo – Até me deram banho…
– Poderia não falar nisso? – Falou Lucas, com um visível desgosto – Não foi lá muito agradável…
– Vocês… Me deram banho… – Disse Mauro, incrédulo.
– A gente não podia deixar isso sobrar para alguma pobre enfermeira. – Comentou Marco, visivelmente desgostoso – Não no estado em que você estava.
Os três ficaram calados, gerando um silencio constrangedor que ecoava pelas paredes brancas do hospital, até ser cortado por uma risada de Mauro.
– Então… – Ele falou enquanto fazia um risinho afetado – Foi bom pra vocês também, amores?
Os três riram juntos, um sorriso compartilhado em longos anos de convivência, até que são silenciados pelo olhar irritado de uma das enfermeiras.
– Não falei que a gente devia ter deixado ele lá na ponte? – Falou Lucas, que ainda segurava o riso.
– Pelo visto você já está melhor. – Comentou Marco.
– Sim. Nada como um pouco de glicose pela manhã para renovar as forças. – Respondeu Mauro – Quando vão me liberar?
– Acho que agora é só questão do medico vir te examinar. – Falou Marco – E não me venha com esse “pela manhã”. São três horas da tarde.
– Já? Achei que o nosso primeiro dia sem ela fosse começar mais cedo. – Disse Mauro, que então olhou pela janela – Mas pelo menos é um dia bonito.
Os sorrisos de Marco e Lucas morrem e em seu lugar brotam expressões de tristeza mal disfarçadas.
– Ué, por que essas caras de enterro? – Perguntou Mauro – Até onde eu sei o funeral dela foi ontem.
– Para de falar assim, Mauro. – Falou Lucas, visivelmente irritado.
– Por que? – Insistiu Mauro – Qual o sentido de manter esse luto?
– O mesmo de beber até quase morrer no dia do funeral dela. – Disse Marco – Idiotice, irmão.
– A mesma idiotice que te fez ficar sem dormir desde que ela morreu, mano. – Retrucou Mauro – Me escutem. Ela deixou a gente, e cada um de nós teve que fazer isso tudo para conseguir aceitar isso. Mas agora é hora de deixar ela.
– Falar assim é fácil… – Resmungou Lucas.
– Não. De maneira alguma. – Respondeu Mauro – Mas é o que precisamos fazer. Somos homens livre agora, para o bem ou para o mal.
– Detesto admitir, mas ele está certo. – Falou Marco.
– Então sorriam, camaradas.- Falou Mauro – Hoje é o primeiro dia do resto das nossas vidas. E pelo menos a chuva parou.
muito bom, man.
gosto de como você aborda as várias possibilidades de um ela sem quase nunca ou nunca largá-la.
FH